Pink Money: a falsa representatividade LGBTQ+

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Pink Money: a falsa representatividade LGBTQ+

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Nos últimos dias cada vez mais tem se levantado o debate sobre o uso do Pink Money. Para quem não sabe, a expressão foi criada pela comunidade LGBTQ para definir o dinheiro lucrado por apropriação da causa.

Durante muitos anos, ser da LGBTQ era visto como repúdio e motivo para boicote. Em tempos em que Pabllo Vittar, Anitta, Preta Gil e Gloria Groove comandam grandes festas e manifestações que celebram a diversidade, os tempos mudaram. As artistas que se tornaram portas-vozes da causa passaram fazer sucesso e isso abriu os olhos de muitos outros que apenas surfam com a maré.

Dois grandes exemplos da semana são Nego do Borel e Jojo Marontinni, mais conhecida como Jojo Toddynho.

Nego do Borel

O primeiro lançou na última segunda-feira (9) o videoclipe de “Me Solta”. Com uma tentativa de ser politicamente correto, o funkeiro acabou levando tudo por água a baixo. Nego apresentou sua personagem de mau gosto, Nega da Borelli. O cantor afirmou que seus amigos mais próximos já a conheciam, o que piora a história e nos faz compreender que a sátira existe há muito tempo.

Um homem cis hétero que veste-se para fazer uma sátira de um gay afeminado ou alguém que se identifica como mulher é definitivamente uma piada sem graça e infeliz. Além de firmar estereótipos, ele mostra que ser uma pessoa com tais características é digno de ser levado como uma piada. Como se já não bastasse por aí, ele ainda mostrou apoio a um candidato à presidência homofóbico, que não vamos citar o nome. Ou seja, além de não ajudar a causa, ele faz piadas e ainda apoia um grande porta-voz da homofobia.

O pior de tudo é que ao se pronunciar sobre o assunto, até então não foi feito um pedido de desculpas aos que se sentiram ofendidos. Ao contrário, sua atitude foi justificada em um ato desesperado de amenizar a situação.

“Quis mostrar que as pessoas podem se soltar, beijar, transar, amar quem elas quiserem. Quando eu decidi fazer esse clipe, sabia que poderia ser algo polêmico, mas fui em frente. A Nega da Borelli é uma personagem que, pra mim, representa a liberdade de ser quem eu sou. Eu gosto da diversidade, o clipe é exatamente um reflexo da favela, ela tem uma diversidade enorme. Chamei gente que vi na internet pra participar, a galera lá do Borel também.”, revelou Nego do Borel ao Jornal Extra.

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Não há desculpa. Ele mesmo admitiu que estaria criando polêmica. Até mesmo Anitta, sua melhor amiga, acabou comentando o assunto e avisou que havia dado um toque ao colega.

Jojo Marontinni

Conhecida como Jojo Toddynho, desde “Que Tiro Foi Esse”, a cantora se apropriou da causa com uma composição voltada ao público LGBTQ usando expressões como “arraso” e “samba na cara das inimigas”. Há alguns dias, ela gravou um novo clipe, “Arrasou, Viado”. Com a letra composta por Anitta, o clipe da faixa foi gravado em uma boate gay de São Paulo e contou com convidados como David Brazil, Thammy Miranda, Dimmy Kier e Rita Cadillac. É aquilo: junte todos os estereótipos gays em uma batedeira com uma pitada de gírias bem humoradas e faça mais um hino gay para sustentar sua carreira, certo?

Até aí, a gente relevaria, se a intérprete não tivesse se apropriando de uma causa que não se identifica, sem ao menos lutar por ela. Há poucos meses, em suas redes sociais, Jojo utilizou o termo “baitola” para ofender um seguidor.

Nunca houve uma retratação ou pedido de desculpas por parte da artista.

Nesta terça-feira (10), ela já lançou a capa do single e não poderíamos esperar algo diferente. Mais uma vez ela resolveu utilizar a causa a seu favor.

O clipe será lançado em breve mas já sabemos o que esperar…

Claudia Leitte

É fato que ninguém nasce desconstruído e que o mundo instrui a sermos homofóbicos e preconceituosos, por isso vale citar o caso de Claudia Leitte. Não adianta pegarmos apenas tweets ou entrevistas antigas para justificar um erro, mas errar com frequência no presente é um motivo para a desconfiança do passado. Em entrevista ao TV Fama, em 2008, ao ser entrevistada pela repórter Léo Áquila, a cantora disse que não gostaria que seu filho fosse gay, e que ele deveria ser macho.

Depois de muito tempo, em 2015, em entrevista para Hugo Gloss, ela chegou a se retratar pelo comentário.

“Eu tinha 26 anos quando fiquei grávida e era uma menina. Eu acho que as meninas de hoje são muito mais evoluídas. Você não tem muita noção do que vai acontecer com o que vai dizer. Eu sou muito espontânea e era uma brincadeira. De lá para cá eu aprendi a me posicionar e sei que há assuntos que não podem ser tratados como brincadeira ainda que lhe induzam a brincar. Faz parte do aprendizado. Meu filho hoje está com seis anos e só me importo com a hombridade, com o caráter dele. Que Deus faça dele o que ele quiser e eu serei feliz com qualquer caminho que ele venha tomar”

Em entrevista a um blog do Correio 24 horas, em 2016, ao falar do assunto, ela também afirmou:

“Mas eu já estive aí porque eu fui uma menina, mas hoje eu sou uma mulher convicta dos meus valores e dos meus princípios. É claro que eu sou um ser humano, eu cometo erros, eu sou uma pessoa que expõe o que sente com muita facilidade no olhar ou falando. Então é óbvio que algumas coisas vão ser deturpadas. Eu sou uma pessoa pública e não vou ser uma pessoa perfeita em tudo que eu falar e em tudo que eu fizer”

Já no ano passado (2017), ela fez uma declaração estereotipada e infeliz em relação aos gays associando homossexualidade com felicidade.

Eu amo o público gay e sou uma pessoa que tem necessidade de tê-los por perto, me cercando, porque eles são enérgicos, alegres, como meu público é. Então, eu não posso viver sem eles. Não posso fazer uma dissociação. Quando eu vejo a massa lá de cima, eu vejo gente feliz. E gay é feliz. Sou uma representante, e se quiserem me aceitar, sempre serei, disse ela.

Além do estereótipo, a declaração foi um desfavor ao público que tanto luta para quebrar essa padronização de “amigo gay”, que tanto se tornou o sonho de consumo das mulheres héteros quando lhes é conveniente.

Esses foram apenas alguns dos exemplos de artistas que se apropriam da causa para o lucro e acabam dando tiro no pé.

Não é necessário ser um artista porta-voz da comunidade LGBTQ, se não for o objetivo. Caso isso aconteça, é importante uma pesquisa e todo cuidado é pouco para não acabar ofendendo as pessoas que tanto precisam de um ídolo para se sentir representado. A falta de representatividade é algo que sempre foi realidade nas minorias. Hoje em dia, o mercado está colorido. Não adianta vir com a frase “qualquer representatividade é válida” pois não é mais uma verdade. Não adianta mais apenas ser não-homofóbico. É preciso ser anti-homofóbico.

Fonte: Café Radioativo

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